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O futuro da ESG: Os exemplos da Apple, da China e a Cúpula do Clima

O futuro da ESG: Os exemplos da Apple, da China e a Cúpula do Clima
Victor Vasques
jun. 2 - 10 min de leitura
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O mundo passa por um momento de transição. Enquanto alguns países ainda sofrem com a pandemia de Covid-19, outros já planejam ou colocam em prática a reabertura de comércios, eventos presenciais, e outros tantos aspectos impactados pela necessidade do isolamento social. Como já havia adiantado no texto “Tendências e tecnologias inovadoras para 2021”, o próximo grande tema global seria o meio ambiente e as mudanças climáticas. Seja ele no âmbito governamental, ou privado. E foi isso que vimos no último dia 22 de abril, quando vimos as comemorações do Dia da Terra dividir espaço no noticiário com a Cúpula de Líderes sobre o Clima, o encontro virtual entre os líderes de 40 países, incluindo o Brasil. O evento é considerado uma prévia da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), que acontece em novembro, em Glasgow, no Reino Unido.


Texto originalmente publicado no InovaSocial


Enquanto governos discutem ações e diretrizes para atingir a meta do Acordo de Paris, empresas privadas já entenderam a necessidade de adotar governança ambiental, social e corporativa (Environmental, social and corporate governance – ESG, em inglês) como pilares fundamentais para crescer e, até mesmo, continuarem existindo em seus mercados. A regra do mercado é clara: aquelas empresas que ignorarem a ESG, estão fadadas ao fim, principalmente com a ascensão de gerações que possuem os valores socioambientais intrínseco no seu cotidiano.

A Apple, por exemplo, uma das maiores empresas do mundo, tem trabalhado fortemente para se posicionar como uma empresa com valores respaldados na ESG. Em março, a empresa de Cupertino anunciou que “mais de 110 de seus parceiros em todo o mundo estão migrando para energia 100% renovável para a fabricação de produtos Apple, com quase oito gigawatts de energia limpa planejada.” Ainda segundo a empresa, “todas as operações corporativas globais da Apple são neutras em emissões de carbono e, até 2030, a Apple planeja zerar seu impacto climático em todos os negócios da empresa, incluindo cadeias de produção e o ciclo de vida de todos os produtos. Isso significa que cada aparelho Apple vendido, incluindo a coleta de materiais, a fabricação de componentes, a montagem, o transporte, o uso pelos clientes, a recarga, a reciclagem e a recuperação dos materiais e emissão de carbono zero.”

Durante o lançamento do novo iMac, na última terça-feira (20), a empresa foi enfática em pontuar todas as questões que envolvem o novo produto em relação ao meio ambiente. Tim Cook e toda equipe de executivos do alto escalão colocaram não só o consumidor no centro de todo o processo, mas também o meio ambiente e os impactos das mudanças climáticas.

Leia também: Você sabe qual é sua pegada de carbono?

“Projetamos nossos produtos para que tenham uma pegada ambiental menor. O novo iMac de 24 polegadas é prova disso. Além de sua estrutura ser feita de alumínio com baixa emissão de carbono, ele também usa materiais reciclados como plástico, estanho e metais de terras raras. O novo chip M1 é o primeiro chip criado especificamente para o Mac. Ele é um chip mais eficiente e oferece excelente desempenho ao usar menos energia. Essa mudança, somada aos nossos esforços para usar materiais reciclados e com baixa emissão, diminuiu a pegada de carbono do novo iMac em cerca de 20% em comparação com a geração anterior.” Apesar de ser uma das poucas empresas do “Clube do Trilhão” (apenas Alphabet, Amazon, Apple e Microsoft são avaliadas em mais de US$ 1 trilhão), olhamos para Apple porque a empresa tem feito um trabalho quase que incansável de se transformar nos últimos anos.

Mas a Apple não está sozinha e a ESG é para todos. O que antes era um nicho, uma oportunidade para se destacar em determinados mercados, virou regra — como comentei anteriormente. Por exemplo, a BlackRock (uma das maiores gestoras de investimento do mundo) ameaçou cortar suas ações contra qualquer empresa que não se enquadre nos relatórios de carbono. O Green New Deal, nos EUA, pode gerar uma infinidade de regras e leis para empresas e investidores. Leia mais sobre o assunto neste texto.

Segundo Tim Mohin, diretor de sustentabilidade da Persefoni AI e autor do livro “Changing Business From the Inside Out: A Treehugger’s Guide to Working in Corporations” (sem versão em português), existem 5 tendências para ESG:

  1. Relatórios universais e o clima como ponto focal;
  2. Mensuração específicas do setor;
  3. A redefinição da materialidade;
  4. Leis regionais indicam o caminho;
  5. Convergência dos padrões ESG.

Relatórios universais e o clima como ponto focal

Um dos grandes desafios da governança ambiental, social e corporativa está na padronização dos relatórios. Sem eles, é difícil comparar e identificar o real impacto de A ou B. É como comparar laranjas e maçãs, no final, é tudo fruta, mas cada uma possui uma peculiaridade, um aspecto diferente da outra. As novas propostas vindas da Europa focam no conceito de “divulgações universais”. Além de simplificar os dados, isso significa que os reguladores escolherão um subconjunto da miríade de tópicos ESG e exigirão que todas as empresas relatem sobre eles. A grande questão é que, quando o assunto é padronizar relatórios tão complexos, não existe uma concordância geral, exceto em um único tema: mudanças climáticas. Portanto, é seguro apostar que o relatório sobre a pegada de carbono da sua empresa seja algo obrigatório em breve.

Mensuração específicas do setor

Outro grande desafio na padronização de um relatório que mensure impactos socioambientais está no tamanho das empresas. Não podemos utilizar os mesmos tópicos para Apple e para uma pequena empresa local. Além disso, existem questões da ESG que afetam determinados setores mais do que outros. Por exemplo, a destruição da floresta tropical é um grande problema para a indústria de carne bovina, mas não é aplicável para empresas de consultoria de gestão. Para compensar essas diferenças, os reguladores estão procurando definir as divulgações “específicas do setor” e isso deve levantar grandes discussões nos próximos meses e anos.

A redefinição da materialidade

A materialidade é um dos temas mais quentes do universo das ESGs. Isso acontece porque ela tem um impacto direto em investidores e, como bem sabemos, grandes empresas dependem muito deste elemento. Materialidade é um conceito fundado em procedimentos de contabilidade financeira de longa data. Este conceito foi emprestado, adaptado e aplicado às informações não financeiras. Segundo a EY Global, “a orientação da Global Reporting Initiative (GRI) nos diz que devemos focar os relatórios de sustentabilidade nas questões materiais da organização. Ao defini-los, devemos nos perguntar se os temas a serem abordados no relatório de sustentabilidade e nas divulgações são suficientemente importantes para influenciar as decisões de um stakeholder em relação ao negócio.”

Leia também: Meio ambiente e a inovação social: Os ensinamentos do design sustentável para 2030

Uma avaliação de materialidade bem concebida pode ajudá-lo a identificar as principais informações de sustentabilidade necessárias para o seu relatório não financeiro e ajudar a facilitar um melhor engajamento com os investidores. No entanto, o debate é sobre se as preocupações com a sustentabilidade devem ser adicionadas aos interesses dos investidores — isso tem sido chamado de “dupla materialidade”. Por exemplo, más condições de trabalho na cadeia de abastecimento de uma empresa podem não ser financeiramente significativas, mas seriam materiais quando analisadas através das lentes da sustentabilidade. Esta é a dupla materialidade.

Leis regionais indicam o caminho

Leis regionais sempre guiaram a ESG, pois são uma forma de mensurar de forma direta os impactos exigidos por uma determinada legislação. A Califórnia, nos EUA, por exemplo, possui atualmente em tramitação uma série de projetos de lei relacionados às ESG. Entre eles, a proposta SB-260, defendida pelo senador Scott Wiener, tornaria os relatórios de carbono obrigatórios para cerca de 5.000 empresas que fazem negócios no estado. A Califórnia não está sozinha. Várias cidades e estados nos Estados Unidos estão promovendo suas próprias leis semelhantes, assim como na Europa. No Brasil, algumas cidades possuem regras que limitam os impactos ambientais, mas muitas delas seguem defasadas com o tempo.

Convergência dos padrões ESG

Uma reclamação sobre o mundo dos relatórios ESG é a falta de consistência. Existem várias organizações que fornecem padrões de relatórios sobrepostos, o que aumenta a confusão e resulta em divulgações inconsistentes. É um mix de todos os tópicos acima, somados a metodologias próprias. Segundo Tim Mohin, talvez a peça-chave desta discussão seja a China. Há sinais de que o país deva entrar em ação com seu próprio conjunto de padrões ESG e isso geraria uma série de impactos no cenário global. Não só nos impactos socioambientais, mas na definição de regras e padrões para ESG. Uma coisa é ter a Europa definindo guias para este tipo de governança; outra coisa é ter o maior país do mundo, um dos maiores produtores de tudo que consumimos e, também, um dos maiores poluidores, entrando neste cenário.

“A China e os Estados Unidos, junto com outros países, estão comprometidos a colaborar entre si e com o restante para combater a crise climática, para responder com a seriedade e urgência necessárias”, indica um comunicado conjunto, na versão distribuída pelo Ministério chinês de Ecologia e Meio Ambiente. O anúncio foi feito após três dias de conversas entre o enviado norte-americano para o clima, John Kerry, e seus homólogos chineses em Xangai. Talvez, para olharmos para o futuro da ESG, tenhamos antes que olhar para o outro lado do planeta e entender como o gigante asiático quer chegar à neutralidade de carbono em 2060.


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