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Entre a velha e a nova filantropia: a filantropia empreendedora e a filantropia estratégica

Entre a velha e a nova filantropia: a filantropia empreendedora e a filantropia estratégica
James Marins
abr. 12 - 6 min de leitura
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Temos alguns costumes culturais que precisamos repensar. Um deles é a separação rigorosa entre o que chamamos de 2o. Setor e 3o. Setor. Esse raciocínio binário - ou é empresa ou é entidade filantrópica - não permite que percebamos que a realidade é bem mais matizada.

Por isso é importante compreender a interpenetração entre o 2o. e  o 3o que é capaz de gerar algo denominado Setor 2.5., um terreno híbrido que busca o balanceamento ou o equilíbrio entre negócios e propósito.

No diagrama que apresento acima, percebemos dois vetores fundamentais: para o 2o Setor o lucro, representado graficamente por um cifrão, e, para o 3o Setor o propósito - representado singelamente por um coração. Essa visualização ilustra a teoria que propõe que a energia do empreendedor empresarial é o o lucro e a energia do empreendedor social é o propósito, propósito de resolver problemas sociais e ambientais. De fato, para grande parte das empresas a única energia é o lucro e, no outro extremo, para grande parte das entidades filantrópicas a única energia é o propósito. Mas, exatamente na interseção, os negócios sociais procuram estar no equilíbrio exato entre o propósito e o lucro: é o Setor 2.5. que busca o balanceamento entre o coração e o cifrão.

Mas a matização não para por aí. O gráfico ainda propõe que existe um “Setor 2.25” e um “Setor 2.75”. 

No Setor 2.25 - com seu principal vetor mirando o lucro - estão as empresas, pequenas ou grandes, que estão trabalhando  para que suas atividades gerem impactos sociais e ambientais positivos, ou, no mínimo, buscam minimizar os impactos negativos que porventura gerem. Modelos como Sistema B, Capitalismo Consciente, Empresas Humanizadas, Economia Circular, ESG e muitos outros designs, podem estar alojados ao redor do Setor 2.25, mais frequentemente se aproximando do “2”. Talvez as startups de impacto, as finanças sociais e o impact investing possam estar no 2.25 mas tentando se aproximar do 2.5. A matização é infinita, na verdade, mas a visualização me parece bastante útil pedagogicamente.

No Setor 2.75 - com seu principal vetor direcionado para o propósito - estão os novos designs de filantropia, que denominamos de filantropia empreendedora. Ali se alojam a filantropia estratégica e a filantropia de alto impacto. A filantropia empreendedora ilustra a diferença entre a gestão filantrópica tradicional e os novos modelos filantrópicos. Na gestão tradicional há grande aversão ao risco e apego à estabilidade de suas ações. Isso ocorre porque o gestor filantrópico normalmente opera com recursos de terceiros que esperam uma gestão conservadora de seus recursos, de modo que a prudência é bastante valorizada para esse modelo. Suas ações costumam ser bastante estáveis, muitas vezes atuando de forma idêntica ao longo dos anos e décadas, buscando com isso inspirar a confiabilidade de seus doadores.

Já a gestão da filantropia empreendedora incorpora as características que descrevemos como constituintes do DNA do Empreendedor Social: a Matriz ETP/PIA, que representa Ética/Propósito, Tecnologia/Inovação e Psicologia/Atitude (A Era do Impacto, Ed. Voo, 2019 - www.aeradoimpacto.com).

Nesse caso, o gestor da filantropia empreendedora se caracteriza pela ousadia na assunção de riscos (não está limitado pelos seus recursos materiais e humanos) e pela busca obstinada da inovação para ampliar ou melhorar a forma de alcançar seus objetivos. 

Na Filantropia Estratégica, somam-se a essas características a visão sistêmica por meio da qual o gestor busca solucionar as causas e não apenas tratar das consequências. Para exemplificar essas modalidades, vou utilizar duas iniciativas que tive a oportunidade de acompanhar de perto desde sua fundação, a Associação Irmão Sol Irmã Lua e o Instituto Legado de Empreendedorismo Social.

A Associação Irmão Sol Irmã Lua cuida com muito carinho de 29 meninas em grave situação de vulnerabilidade. Oferece amor, alimento e confiança para a vida por meio do sistema de contraturno escolar, com aulas que vão de balé e culinária até tecnologia. Seu objetivo é cuidar de suas lindas meninas e prepará-las para a vida por meio de uma gestão estável e prudente dos recursos de seus doadores e se constitui em um admirável exemplo de Filantropia Tradicional.

Por sua vez, o Instituto Legado tem por missão a transformação da sociedade por meio do empreendedorismo social. Por meio do Projeto Legado, oferece gratuitamente o empoderamento de líderes empreendedores sociais para que possam ampliar o impacto positivo que geram na sociedade. Além disso, o Instituto Legado promove conexões ecossistêmicas, atua em advocacy e investiu em tecnologia ao criar pioneiramente seu programa de EAD denominado MBA em Gestão de Organizações e Negócios de Impacto Social, utilizando design instrucional de ponta. Esse programa é oferecido a um público crescente de gestores e empreendedores sociais a preço justo, isto é, a instituição se utiliza do “mercado” não apenas para gerar recursos mas, principalmente, para ampliar o impacto de seus objetivos e com isso já capacitou mais de 600 empreendedores sociais de todo o Brasil. Por se constituir em exemplo de Filantropia Estratégica o Instituto Legado foi descrito como “case”pelo Projeto Erasmus da União Européia.

Por fim, a terceira figura que consta do gráfico acima é a Filantropia de Alto Impacto. Como exemplo, costumo citar a Fundação Bill e Melinda Gates, fundada pelo bilionário e tecnofilantropo Bill Gates e sua esposa Melinda. Aqui se dá uma associação de recursos quase ilimitados e tecnologia de ponta para alcançar resultados de alto impacto, como, por exemplo, seu conhecido projeto de erradicação da poliomielite no continente africano. Mas essa modalidade de filantropia, infelizmente, é para muito poucos em nosso mundo.

Essa classificação tem unicamente finalidade pedagógica, pois nenhuma das modalidades filantrópicas é mais importante que a outra, porque uma não pode fazer o que a outra faz e é nisso que reside a beleza da infinita diversidade do ecossistema de impacto.


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