A Sociedade Evolutiva
Os numerosos estudos sobre a evolução da consciência da humanidade não são desprovidos de utilidade prática. Antes de avançarmos me parece importante lembrar que há autores que utilizaram essas descobertas para aplicarem em seus campos de ação prática. O autor belga Frederic Laloux, por exemplo, estuda modelos organizacionais e produziu pedagógica condensação de diversos modelos científicos propostos por pesquisadores de diversos campos de especialidade como história, antropologia, filosofia, religião, psicologia e neurociência.
Em vários campos de pesquisa, as questões-chave a serem respondidas são: como, no plano individual, o ser humano evolui desde seu nascimento até sua maturidade? E, no plano coletivo, como a humanidade evoluiu das primeiras formas de consciência até a complexa consciência contemporânea? Linhas diversas respondem a questões distintas do processo evolutivo: “Abraham Maslow notoriamente investigou como as necessidades humanas evoluem ao longo da jornada humana, das necessidades biológicas mais básicas até necessidades de autorrealização.
Outros pesquisaram o desenvolvimento através das lentes das cosmovisões (Gebser, entre outros), capacidades cognitivas (Piaget), valores (Graves), desenvolvimento moral (Kohlberg, Gilligan), identidade pessoal (Loevinger), espiritualidade (Fowler), liderança (Cook-Greuter, Kegan, Torbert), e por aí vai”. Nessa pesquisa, Frederic Laloux percebeu que suas características principais poderiam ser utilizadas para evidenciar modelos de gestão de organizações sociais de diversa natureza, de todos os setores (primeiro, segundo e terceiro). Criou, então, um quadro comparativo, que adaptamos (ver acima Quadro 27 - Modelos de gestão de organizações sociais de diversas naturezas).
É impressionante como a leitura das organizações, a partir desse esquema, revela instantaneamente suas características fundamentais. Assim como vimos nos capítulos anteriores, diversas novas propostas e movimentos de novos designs econômicos estão se alinhando com o processo evolutivo da consciência humana. Podemos vislumbrar designs econômicos sustentáveis, de crescimento zero, mas com prosperidade, economia de circuito fechado, com desperdício zero, toxidade zero e 100% reciclável, tudo associado ao consumismo alternativo no qual os produtos voltados para o ego terão menos apelo do que hoje. Mas da mesma forma como os paradigmas evolutivos repercutem nos modelos econômicos e na gestão de empresas, também impactam em todos os aspectos da sociedade. De acordo com Laloux, é possível identificar uma “Sociedade Evolutiva-Teal”.
Nessa Sociedade Evolutiva, segundo Laloux, realizaremos mudanças profundas na forma como produziremos alimentos, como educamos as crianças e também no modo como administramos a justiça. O cultivo orgânico dotado de tecnologia avançada, de produção distribuída pouco a pouco irá substituindo as grandes extensões produtoras. Escolas e universidades que hoje oferecem instrução seriada para alunos destinados a integrar sistemas industriais e de serviços repetitivos terão que se reinventar para comportar jornadas de aprendizagem individualizadas de acordo com os interesses e potenciais dos jovens.
Sob o ponto de vista financeiro, deverá ser cada vez mais frequente a adoção de moedas e sistemas monetários alternativos, descentralizando o deletério e concentrador poder monetário. O conceito de propriedade será revisitado, comunidades globais serão formadas para administrar a energia e o trabalho que, na forma como o conhecemos, está com seus dias contados. O nível de complexidade de nossa Sociedade Evolutiva não diminuirá, mas aumentará. Já mencionei ao início que o pensamento novo-paradigmático deve levar em consideração a complexidade, a instabilidade e a intersubjetividade. Por isso, líderes em todos os níveis, tanto na esfera dos poderes e administrações públicas, como no âmbito de todos os campos de gestão privada, necessitam ser capazes de desenvolver níveis de pensamentos mais complexos.
Os especialistas em liderança José Vicente Cordeiro, Luciane Botto Lamoglia e Paulo Cruz Filho fizeram profundos estudos que demostram as vantagens práticas da denominada “liderança integral”, correlacionando a evolução humana nas suas relações com as organizações. Eles explicam: “O líder integral é aquele ou aquela que exerce um papel de liderança, operando a partir de níveis conscienciais de segunda camada.
Valendo-se de processos de pensamento mais complexos, referentes aos níveis amarelo, turquesa e coral, esse novo perfil de liderança é capaz de lidar de forma apropriada com a volatilidade, a incerteza, a complexidade e a ambiguidade, características dos ambientes Vuca nesse início de milênio”. Ou seja, líderes empáticos, consciencialmente evoluídos para uma sociedade evolutiva.
(Esse texto foi adaptado do livro A ERA DO IMPACTO, Editora Voo, 2019, pgs. 336 a 339 www.aeradoimpacto.com, também disponível em formato Kindle e Google Books)